sábado, 2 de agosto de 2008

UM POUQUINHO DE HISTÓRIA DO BRASIL... Parte III

CHEGADA DA FAMÍLIA REAL DE PORTUGAL
Detalhe da Chegada da Família Real de Portugal. Nobres se aproximam para ir a bordo. O Forte Villegaignon dispara uma salva.
Ilustração: Geoff Hunt

A TRANSMIGRAÇÃO DA FAMÍLIA REAL DE PORTUGAL - 1807-1808

A 21 de dezembro D. João informou ao Capitão James Walker que tinha decidido ir, sem parar, ao Brasil. O andamento da Esquadra era razoável e não faltava água ou mantimentos. Naquela noite, a fragata Minerva fora enviada à S. Tiago para avisar os demais navios da decisão do Príncipe Regente.

As quatro naus, que tinham passado a noite paradas perto da Madeira, entraram para fazer aguada em S. Tiago a 24 de dezembro e lá encontraram a Minerva. A London, que tinha sido enviada para fazer aguada em Madeira, fundeou dois dias depois.

A 27 de dezembro, de Cabo Verde, partiram com destino a Cabo Frio, distante 823 léguas. Tinham conhecimento que as naus, com a Família Real, velejavam num rumo paralelo ao leste. Assim, diariamente ao alvorecer, Monarch recebia sinal para deslocar-se para o horizonte no sueste. À noitinha, recebia sinal para voltar, evitando perder-se na escuridão.

A 2 de janeiro de 1808, Bedford reportou que estava avistando três naus no horizonte. Um vento fraco e o fato de que era a única nau de escolta junto à Família Real, impedia-a de investigar. Naquela noite, uma luz azul fora colocada no topo do seu mastro real. Esta foi a única ocasião, após 8 de Dezembro, em que o ascender de uma luz azul foi anotado. O livro de quartos da Marlborough registra, às 11:30h da noite, a presença de uma luz azul no horizonte. Ao meio-dia, as tomadas de posição dessas duas naus mostram uma diferença de cinco minutos de latitude e um grau e cinco minutos de longitude. Devido aos fatos acima e as discordâncias normais na tomada de posição, podemos hoje ter a certeza de que as duas divisões da Esquadra, que viajavam independentemente, estavam a vista uma da outra e, por pouco, não se encontraram. Caso tivesse ocorrido, como teria se desenvolvido a História? Será que D. João teria ido a Salvador onde assinou a abertura dos portos?

As naus com a Família Real a bordo, aproximando-se do equador, entraram numa área de calmarias. Levaram dez dias para galgar trinta léguas (esta distância levaria doze horas com um forte vento).

Hoje, nosso conhecimento das naus que empreenderam esta viagem é quase nulo. Não podemos imaginar, por exemplo, que o trabalho de trazer a bordo o ferro e guardar o seu cabo ocupava 383 homens. Desconhecemos também a qualidade das refeições, a medicina e a higiene a bordo, o tédio e o perigo.

O progresso lento - mesmo depois de ter ultrapassado esta área de calmarias, pois o vento soprava do sueste - somado ao fato que a Afonso de Albuquerque era uma nau ronceira, contribuíram para que D. João mudasse seus planos; já se encontravam há 7 semanas no mar. Às 1:20h da tarde de 16 de janeiro, o cúter da Bedford deslocou-se até a Príncipe Real; recebeu ordens de alterar o rumo, pois a decisão tinha sido tomada de ir a Salvador.

Relatos anteriores de que esta decisão fora tomada por causa da escassez de mantimentos e água, não prosseguem. Após o dia 5 de Dezembro, não houve transferência entre as naus. Quando a Bedford fundeou em Salvador, restava no porão 75 toneladas de água; o carregamento completo, em Plymouth, tinha sido de 225 toneladas. O consumo diário era de 2 toneladas.

A 22 de janeiro de 1808, portanto após 55 dias no mar, finalmente fundearam em Salvador. A primeira etapa da viagem havia terminado. Alguns dias antes, a 17 de janeiro, a divisão da Esquadra que tinha velejado diretamente de S. Tiago, após aterrar em Cabo Frio (um exemplo da precisão possível na navegação desta época), entrou na baia do Rio de Janeiro.

Aos poucos, todas as naus foram chegando: Medusa, bastante avariada, atracou no Recife a 13 de janeiro; D. João de Castro, danificada e fazendo água, fundeou, no início daquele mês, na Enseada de Lucena (Paraíba); Martim de Freitas, após breve estadia em Salvador, arribou no Rio de Janeiro a 26 de janeiro; Príncipe do Brasil chegou no Rio de Janeiro a 13 de fevereiro portanto, um atraso de quatro semanas, pois teve que se dirigir primeiro à Inglaterra para reparos. Antes, porém, as irmãs da Rainha foram transferidas para a nau Rainha de Portugal.

Enfim, embora severamente castigadas pelas sucessivas tormentas de inverno, que causaram avarias consideráveis, todas as naus chegaram ao seu destino. Isto reflete a qualidade dos oficiais e das guarnições, assim como do projeto e da construção dessas naus; fruto da experiência de vários séculos navegando regularmente através dos oceanos, em condições de tempo variadas.

A Família Real, a 23 de janeiro, desembarcou; a Rainha seguiu no dia seguinte. Aos 30 dias daquele mês, o Príncipe Regente visitou a Bedford, examinando todas as partes da nau durante três horas. Enquanto permaneceram em Salvador, as naus preparavam-se para a segunda etapa da viagem: consertos, recebimento de mantimentos secos e salgados e animais vivos (Bedford matou seis bois e três porcos durante a viagem até o Rio de Janeiro).

D. João tinha plena confiança no Capitão James Walker. Enquanto esperavam em Salvador mandou transferir para Bedford, nos dias 14, 15 e 17 de fevereiro, 84 cofres com tesouros, para serem transportados até o Rio de Janeiro.

A 26 de fevereiro, às 10:30h da manhã, a Esquadra composta pelas naus Príncipe Real, Afonso de Albuquerque, Medusa e Bedford, pela fragata Urânia, pelo brigue Três-Corações, pelo Activo e pelo Imperador Adriano (os dois últimos substituindo a D. João de Castro, que não tinha condições de prosseguir viagem sem primeiro submeter-se a grandes reparos), finalmente zarpou. Ao meio-dia, tiveram que parar e esperar pela maré, mas logo depois estavam novamente a caminho e, pelas 4:00h da tarde, fora da baía e em mar aberto.

A viagem até o Rio de Janeiro foi tranqüila. Nas últimas duas noites pararam, por medida de segurança, pois velejavam perto da costa. A 6 de março, entre descargas de chuva, o vigia da Bedford, às 1:15h da tarde, finalmente avistou terra. Encontravam-se a cerca de oito léguas de Cabo Frio. No dia seguinte, entre salvas dos fortes e das embarcações, chegaram ao Rio de Janeiro.

* * *

Calculamos que a tripulação das Esquadras naval e mercante deveria ter sido em torno de 7.500 homens, É impossível saber exatamente quantos foram os passageiros, pois não existe lista. Sabemos detalhes apenas sobre a nau Príncipe Real. No Arquivo Nacional, do Rio de Janeiro, existe listas de passageiros de 5 navios mercantes – cada um levava entre 25 e 40 pessoas.

Assim calculamos que foram transportados entre 3.500 e 4.500 passageiros; um total, portanto, de 11.000 a 12.000 pessoas. O transtorno na cidade do Rio de Janeiro deve ter sido bem menor que anteriormente relatado - a tripulação da Esquadra naval continuaria a bordo, por receio de desertores, a chegada se estendeu durante um período de dois meses e muitos dos navios da frota mercante pertenciam a outras praças.

D. João ficara tão satisfeito com a atenção recebida da Marinha britânica que decidiu condecorar os principais oficiais. Um problema era o fato que todas as ordens militares eram também, religiosas; portanto só poderiam ser conferidas a Católicos.

Para contornar esse impasse, resolveu reviver uma ordem não-religiosa, a Ordem da Torre e Espada originalmente instituída por D. Afonso V, em 1459.

A 4 de junho de 1808, aniversário do Rei Jorge III, Sir Sidney Smith recebeu a bordo da London a Família Real. Após os brindes habituais o Príncipe Regente mandou que seu pavilhão, que fora içado a bordo da London, fosse trazido à sua presença a fim de presenteá-lo a Sir Sidney. Em seguida ordenou-o esquatelar seu brasão com as armas de Portugal para que os seus descendentes nunca esquecessem a gratidão da Família Real pelos serviços prestados nesta jornada.

Continua...


Cortesia do Site Oficial da Casa Imperial do Brasil
http://www.monarquia.org.br/home.html

Um comentário:

Anônimo disse...

What a great moment of reading blogs.