Fruta abundante no
Brasil é ameaça a pacientes com doenças renais.
JÚLIO CÉSAR BARROS |
Edição Online - FAPESP - 25 de novembro de 2013
Pesquisadores da USP conseguiram isolar e caracterizar a substância caramboxina, para facilitar a associação com o nome do fruto Averrhoa carambola (foto) |
Comer
carambola ou tomar seu suco pode ser fatal para pacientes com insuficiência
renal crônica devido a uma toxina presente na fruta que deixa de ser filtrada
pelos rins. A novidade é que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP)
conseguiram isolar e caracterizar a toxina para entender como ela age no
organismo.
Os autores batizaram a substância de caramboxina, para facilitar a
associação com o nome do fruto Averrhoa carambola. O estudo, que
busca alertar para os perigos da ingestão da toxina, estampou a capa da edição
do dia 07 de novembro da revista Angewandte Chemie International,
com status de VIP (Very Important Paper).
Os
estudos começaram em 1998 e os primeiros resultados surgiram no início dos anos
2000. O isolamento da substância não foi tarefa fácil, porque a caramboxina,
quando misturada em água e armazenada em temperatura ambiente, sofre uma reação
que altera sua configuração e a torna completamente inativa. Segundo os
pesquisadores Norberto Peporine Lopes e Norberto Garcia-Cairasco, professores
respectivamente da Escola de Ciências Farmacêuticas e da Faculdade de Medicina
da USP de Ribeirão Preto, o trabalho exigiu a união de esforços de uma equipe
multidisciplinar, como nefrologistas clínicos, neurocientistas básicos e
químicos estruturais e de síntese. As frutas usadas para isolar e estruturar a
toxina foram colhidas de árvores que não foram tratados com pesticidas.
Testes
com extrato bruto de carambola (suco) foram feitos em animais de laboratório
com insuficiência renal, a fim de simular a situação dos pacientes, descrevem
os responsáveis pela pesquisa. “Os animais tomaram o suco concentrado, o que
produziu efeitos semelhantes aos de pacientes nas mesmas condições, incluindo
convulsões e eventuais óbitos”, explica Garcia-Cairasco, lembrando que é
impossível comprovar tais sintomas sem o uso de modelos animais. Os dados mais
conclusivos sobre caracterização neuroquímica e neurofarmacológica da toxina
foram obtidos em modelos in vitro.
Quando
o fruto e/ou seu suco são consumidos por pacientes acometidos de insuficiência
renal ou lesão aguda nos rins, ou por indivíduos diabéticos, a caramboxina pode
induzir crises de soluços, vômito, confusão mental, agitação psicomotora,
convulsões prolongadas (estado de mal epiléptico) e até a morte. Embora pessoas
sem histórico de problemas renais não corram riscos, os pesquisadores
recomendam que se evite abuso no consumo da carambola. Isso porque seu teor de
ácido oxálico pode eventualmente produzir cálculos renais em indivíduos mais
sensíveis. Isto predisporia aos efeitos neurotóxicos da caramboxina, afirma o
professor Garcia-Cairasco.
Para
os pesquisadores, os resultados do estudo podem ajudar a criar ferramentas para
estudos de processos de excitabilidade e neurodegeneração do sistema nervoso ou
mesmo para a produção de eventuais substâncias chamadas antagonistas. Para mais
informações, acesse um estudo anterior que está disponível na Biblioteca
Virtual.
Projeto
Desenvolvimento
de uma plataforma para o estudo do metabolismo in vivo e in
vitrode produtos naturais, uma necessidade para o sistema de ensaios
pré-clínicos (nº
09/51812-0); Modalidade: Auxílio à Pesquisa – Programa
BIOTA – Temático; Coord.: Norberto Peporine Lopes/USP; Investimento: R$
1.563.792,01 (FAPESP).
Artigo
GARCIA-CAIRASCO,
N. et al. Elucidating
the Neurotoxicity of the Star Fruit.
Angewandte
Chemie. 2013
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