quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

HEIMA - A MÚSICA POR UM PAÍS.  

Publicado por Rafael Tinel, 21/11/2013.


Muito se fala na internet por esses dias, sobre a comovente história da cidade que parou e moveu todas as suas atenções, ao menino que sonhava em ser o Batman.

Existe uma banda, que é um dos sinônimos do Post Rock, mas, que é comumente relacionada ao Indie ou ao Rock Alternativo, que fez o mesmo, mas levou a música a lugares onde uma ou nenhuma pessoa morava ou a lugares onde a beleza natural, “brigava” com o som do grupo, pra ver o que era mais belo.

Sigur Rós, que nasceu e vive na Islândia, é um típico caso de um grupo que surgiu em um país pequeno e que acaba sendo sinônimo ao país, quando é referido em outras regiões do globo. Eles são o nosso Samba.

A alguns anos, após a principal turnê da banda, que durou quase 02 anos – entre 2005 e 2007, o grupo voltou a Islândia e resolveu presentear o país com uma série de shows graciosos. Foram 11 ao total, cada qual, em uma região diferente.

O Sigur Rós foi apoiado pelo Amiina, que contribuiu para os espetáculos em que o grupo preparou para os seus conterrâneos.

Cerca de 1 ano depois, eles lançaram o Documentário que conta a história da turnê, elevando a banda a um patamar artístico experimental.

O documentário está disponível na integra no Youtube:



quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O MENESTREL...  



Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, contudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto... plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!

William Shakespeare

terça-feira, 17 de dezembro de 2013


QUE COMIDA QUEREMOS?


Nas últimas décadas, o Brasil se tornou um dos países com maior segurança alimentar do mundo. Mas a qualidade é questionada por quem busca uma ética que contemple alimentos saudáveis para o ambiente, para quem os produz e para quem os come

“(…) o estômago se torna sensível, sucos gástricos se exaltam, gases interiores se deslocam com ruído; a boca se enche de saliva e todas as forças digestivas estão em armas, como soldados que aguardam uma ordem de comando para agir. Mais alguns momentos e se terá fome.” [1]

E agora, o que comer? Nunca o homem urbano teve tantas opções de nutrição, nem tantas informações sobre os efeitos dos alimentos no organismo. Bom seria se esse desempenho ótimo nos campos agroindustrial e da pesquisa científica tivesse se convertido em saúde alimentar. Só que não. De modo geral, ganhamos em quantidade (segurança alimentar), mas perdemos em qualidade (contaminação química, desequilíbrio nutricional), vitalidade (esterilidade) e diversidade (padronização e aumento de escala).

Ao longo do século XX, o alimento padronizado ganhou status de comida saudável em razão do controle biológico dos microrganismos (bactérias). Para isso, abriu mão de suas características originais de cor, sabor e textura, ou seja, da sua integralidade. Iogurte e macarrão tornaram-se monotonamente iguais no Brasil, na África do Sul ou em Israel.

No século XXI, há uma tentativa de resgatar premissas da tradição alimentar e dar um passo além. Não basta ser integral e estar livre de contaminantes biológicos, o alimento precisa ser saudável para o meio ambiente, para quem o produz e para quem o come, além de estar culturalmente ajustado às tradições dos diferentes povos. “O mundo contemporâneo pede um alimento ético”, resume a nutricionista Elaine de Azevedo, especializada em orgânicos, pós-doutorada pela Faculdade de Saúde Pública da USP e professora adjunta da Universidade Federal do Espírito Santo. Apesar da recente disseminação de sistemas de rastreabilidade, a nutricionista ressalta que pouco se sabe sobre a vida pregressa dos alimentos à mesa dos brasileiros. Menos ainda sobre as microssubstâncias que podem esconder. “Se, por um lado, a comida está biologicamente mais segura do que há 50 anos, por outro, chega quimicamente contaminada com agrotóxicos, aditivos sintéticos, drogas veterinárias, fertilizantes químicos, contaminantes da irradiação (procedimento para esterilizar alimentos). Sem falar dos transgênicos”, diz.

Em compensação, o movimento reativo em prol de uma cultura alimentar alternativa nunca foi tão plural. Enquanto a indústria quase não diversifica as opções além do lightdiet e baixa caloria, as propostas contemporâneas de dietas se multiplicam: podem ser orgânicas, vegetarianas, veganas, crudistas, sanguíneas, mediterrâneas, éticas, funcionais, ayurvédica, tradicional chinesa etc.

Cidades de grande e médio porte também já estão repletas de propostas culinárias alternativas e com preços acessíveis: restaurantes com o charme da alta cozinha, mas que dão preferência à simplicidade dos alimentos orgânicos e integrais. E, sem radicalismos, não abrem mão das ótimas exceções que a indústria oferece, entre as quais, azeites, pimentas, queijos, cervejas, vinhos…

[1] Descrição de como surge o apetite, feita por Jean-Anthelme Brillat-Savarin, prefeito de Versalhes entre 1791 e 1793, e um apaixonado pelos prazeres da mesa. Escapou por pouco de ser guilhotinado na Revolução Francesa. Escreveu A Fisiologia do Gosto, Companhia das Letras (1995).

CAMINHADA

No Brasil de cinco décadas atrás, com o agronegócio e a agroindústria ainda sem grandes projeções, boa parte dos alimentos do dia a dia era naturalmente local. E, sim, havia riscos de contaminação biológica. O leite, por exemplo, era transportado em caçambas, sob o sol ou chuva, até as cooperativas distribuidoras. Mas, a partir dos anos 1970, com a chegada da Revolução Verde[2] , a Embrapa foi criada e passou a desenvolver competência na produção agropecuária.

Enquanto isso, a mulher ocupava o mercado de trabalho e passava a demandar alimentos processados, que agregassem praticidade à sua dupla jornada. Supermercados e oferta de alimentos padronizados se multiplicaram. O fast-food virou febre. No final do século XX e início do XXI, no decorrer do processo de globalização, o Brasil assumiu o papel de grande player na distribuição mundial de alimentos. A essa altura, atingira o auge a “gastro-anomia”, neologismo que o sociólogo francês Claude Fischler [3] cunhou para enfatizar a falta de regras e de preocupação com os efeitos da alimentação na saúde humana. Pesquisas científicas sobre a relação da qualidade nutricional das dietas com a saúde e a longevidade ganharam destaque no mundo. A agenda ambiental, por sua vez, sugeria uma redução no ímpeto capitalista ao pôr em pauta os riscos do aquecimento global provocado pelo excesso de emissões de CO2.

[2] Programa idealizado em meados do século XX na América do Norte para aumentar a produção agrícola no mundo com melhorias genéticas de sementes, uso intensivo de insumos industriais, mecanização e redução do custo de manejo

[3] Com Estelle Masson, é coautor de Comer, a alimentação de franceses, outros europeus e americanos, Editora Senac, 2010

Finalmente, o círculo se fechou com o surgimento de movimentos que tentam resgatar a ideia da comida orgânica e local, parecida com aquela servida cinco décadas atrás, inserindo-a no cardápio do dia. O locavorismo (locavore, em inglês), o mais famoso deles, propõe o consumo de alimentos produzidos no máximo a 160 quilômetros de distância. Elaine Azevedo, no entanto, alerta para um lado não tão estimulante do movimento: sempre há o risco de, ao se cortar os laços com o outro, criar um ambiente xenófobo. Outro risco é o de acabar levando a mulher de volta à cozinha, já que o movimento valoriza o antigo conceito de família nuclear que faz todas as refeições em casa.

Estaria a indústria de alimentos atenta à sua responsabilidade social na promoção da saúde? O diretor de assuntos corporativos da BRF, Marcos Jank, crê que sim. O segmento está submetido a uma série de regulamentações (mais na reportagem “Em busca da justa medida) e, em alguns casos, até as supera. A BRF, por exemplo, estimula a prática do plantio direto entre seus fornecedores do campo, uma vez que essa técnica de manejo de solo propicia uma diminuição no uso de herbicidas.

Mas, para Jank, a responsabilidade social da indústria de alimentos vai além. O Brasil, na posição de grande produtor de alimentos, assumiu a responsabilidade social de garantir segurança alimentar para países com grandes populações e sem a sua exuberância de terras agricultáveis e aquíferos. Caso da China. “Não creio que o Brasil conseguiria contribuir para a segurança alimentar de mais de 7 bilhões de pessoas, das quais 1 bilhão em situação de fome, se transformasse a sua produção em orgânica”, afirma.

O executivo da BRF destaca ainda que problemas de saúde, como a obesidade, podem não estar diretamente relacionados ao alimento. “Os hábitos mudaram nos últimos 50 anos e o sedentarismo é uma realidade. Não tínhamos tantas escadas rolantes, automóveis, controles remotos e uma série de outras facilidades que desestimulam a atividade física.” A BRF foi a única de cinco empresas globais do setor de alimentos, procuradas pela reportagem, que agendou entrevista dentro do prazo de 10 dias, de acordo com o cronograma da revista. As demais – Nestlé, Unilever, Pepsico e JBS – não nos atenderam até o fechamento desta edição.

CAVALO DE PAU

Professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp) e membro do Fórum de Inovação da FGV, Wilson Nobre não atua profissionalmente na área, mas é um diletante em assuntos que envolvem nutrição. Segundo ele, o problema da indústria de alimentos é continuar “amarrada” ao paradigma do “fazer mais do mesmo”, introduzido há 250 anos pela Revolução Industrial, e, portanto, com pouca chance de promover rupturas em curto ou médio prazo. “Em vez de nutrir 7 bilhões de seres humanos, a indústria não passa de uma vendedora de comida”, afirma.

Mesmo que a indústria esteja ciente de que o momento pede mudanças significativas no âmbito da qualidade nutricional dos alimentos, Nobre entende que alterar esse percurso secular é tão difícil quanto dar um cavalo de pau em um transatlântico. “Suponha que o presidente de uma dessas grandes empresas se convença de que deve lançar uma linha só de orgânicos. Na primeira rateada do demonstrativo financeiro, os acionistas o jogam porta afora, pois a sociedade também vive no paradigma vigente.”

Wilson Nobre e Elaine Azevedo compartilham a crença de que o mercado de alimentos orgânicos pode aumentar escala, reduzir custos e chegar à mesa da população. Trata-se de uma questão de tempo – e investimento. A própria Embrapa já dispõe de tecnologia para revolucionar esse mercado.

O acadêmico da FGV sugere o uso de ferramentas como o Design Thinking às empresas ainda “amarradas” ao velho paradigma industrial, porém interessadas em aprender a “nadar contra a corrente”, para usar a expressão do próprio Tim Brown, o CEO da consultoria Ideo e criador dessa metodologia.

Um dos pilares desse método é colocar o homem no centro das discussões de criação e inovação, ocupando um espaço que sempre foi do marketing do produto que se quer vender. “Como vive e o que sente a pessoa que vai se relacionar com o alimento que lhe será vendido? Esse é o paradigma que se perdeu com a Revolução Industrial, mas que será resgatado daqui a alguns anos, na ‘pós-pós-modernidade’”, acredita Nobre.

Para a pergunta “comemos melhor?”, não há resposta única, mas uma combinação de fatores. Veja alguns deles nos tópicos “Conhecemos o que alimentamos?“e “Temos mais qualidade na produção de alimentos?” e monte sua conclusão.

Fonte: Página 22, por Magali Cabral.

TOXINA DA CARAMBOLA É ISOLADA...



Fruta abundante no Brasil é ameaça a pacientes com doenças renais. 

JÚLIO CÉSAR BARROS | Edição Online - FAPESP - 25 de novembro de 2013

Pesquisadores da USP conseguiram isolar e caracterizar a substância caramboxina, para facilitar a associação com o nome do fruto Averrhoa carambola (foto)


Comer carambola ou tomar seu suco pode ser fatal para pacientes com insuficiência renal crônica devido a uma toxina presente na fruta que deixa de ser filtrada pelos rins. A novidade é que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram isolar e caracterizar a toxina para entender como ela age no organismo. 

Os autores batizaram a substância de caramboxina, para facilitar a associação com o nome do fruto Averrhoa carambola. O estudo, que busca alertar para os perigos da ingestão da toxina, estampou a capa da edição do dia 07 de novembro da revista Angewandte Chemie International, com status de VIP (Very Important Paper).

Os estudos começaram em 1998 e os primeiros resultados surgiram no início dos anos 2000. O isolamento da substância não foi tarefa fácil, porque a caramboxina, quando misturada em água e armazenada em temperatura ambiente, sofre uma reação que altera sua configuração e a torna completamente inativa. Segundo os pesquisadores Norberto Peporine Lopes e Norberto Garcia-Cairasco, professores respectivamente da Escola de Ciências Farmacêuticas e da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, o trabalho exigiu a união de esforços de uma equipe multidisciplinar, como nefrologistas clínicos, neurocientistas básicos e químicos estruturais e de síntese. As frutas usadas para isolar e estruturar a toxina foram colhidas de árvores que não foram tratados com pesticidas.

Testes com extrato bruto de carambola (suco) foram feitos em animais de laboratório com insuficiência renal, a fim de simular a situação dos pacientes, descrevem os responsáveis pela pesquisa. “Os animais tomaram o suco concentrado, o que produziu efeitos semelhantes aos de pacientes nas mesmas condições, incluindo convulsões e eventuais óbitos”, explica Garcia-Cairasco, lembrando que é impossível comprovar tais sintomas sem o uso de modelos animais. Os dados mais conclusivos sobre caracterização neuroquímica e neurofarmacológica da toxina foram obtidos em modelos in vitro.

Quando o fruto e/ou seu suco são consumidos por pacientes acometidos de insuficiência renal ou lesão aguda nos rins, ou por indivíduos diabéticos, a caramboxina pode induzir crises de soluços, vômito, confusão mental, agitação psicomotora, convulsões prolongadas (estado de mal epiléptico) e até a morte. Embora pessoas sem histórico de problemas renais não corram riscos, os pesquisadores recomendam que se evite abuso no consumo da carambola. Isso porque seu teor de ácido oxálico pode eventualmente produzir cálculos renais em indivíduos mais sensíveis. Isto predisporia aos efeitos neurotóxicos da caramboxina, afirma o professor Garcia-Cairasco.

Para os pesquisadores, os resultados do estudo podem ajudar a criar ferramentas para estudos de processos de excitabilidade e neurodegeneração do sistema nervoso ou mesmo para a produção de eventuais substâncias chamadas antagonistas. Para mais informações, acesse um estudo anterior que está disponível na Biblioteca Virtual.

Projeto
Desenvolvimento de uma plataforma para o estudo do metabolismo in vivo e in vitrode produtos naturais, uma necessidade para o sistema de ensaios pré-clínicos (nº 09/51812-0); Modalidade: Auxílio à Pesquisa – Programa BIOTA – Temático; Coord.: Norberto Peporine Lopes/USP; Investimento: R$ 1.563.792,01 (FAPESP).

Artigo
Angewandte Chemie. 2013

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

“ESTADO DE DIREITO E DIREITO DO ESTADO”


“ESTADO DE DIREITO E DIREITO DO ESTADO”


“Presidente, o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina”, (Pedro Aleixo, Vice-Presidente do Brasil, questionando o então Presidente Arthur da Costa e Silva sobre a imposição do Ato Institucional n.5, em dezembro de 1.968).

“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.       
                    
É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens (Constituição da República Federativa do Brasil, Artigo 5, incisos X e XV);

“Toda pessoa tem o direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada” (Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, Artigo 8 das Garantias Judiciais, Parágrafo II, Inciso g).

“Totalitarismo (ou regime totalitário) é um sistema político no qual o Estado, normalmente sob o controle de uma única pessoa, político, facção, ou classe, não reconhece limites à sua autoridade e se esforça para regulamentar todos os aspectos da vida pública e privada, sempre que possível”. (Wikipédia).

Conforme tem sido amplamente divulgado pela mídia, “a partir de janeiro de 2.013 entrou em operação, em todo o país, o SINIAV (sistema de rastreamento veicular) começando obrigatoriamente pelos carros novos, os quais – sem exceção – terão que sair da fabrica com o chip já implantado. Até julho de 2.014 a implantação se estenderá para todos os carros usados, sendo que o estado irá programar a instalação, individualmente. O chip estará sempre ativo e identificando o veículo em qualquer ponto do território nacional, seja em estradas ou vias urbanas. Ele vai permitir que os órgãos de trânsito fiscalizem a frota nacional, a fim de evitar roubo/furto de veículos/cargas, controlar tráfego, restringir acesso em zonas urbanas, fiscalizar velocidade média, aplicar multas, localizar veículos roubados, enfim, uma série de funções agregadas. O sistema vai utilizar uma série de antenas fixas ou móveis para fiscalizar a frota. Quem não portar o chip terá de pagar multa de R$ 127,69, além de ter cinco pontos na CNH e ter o veículo retido”.

No princípio, era apenas a Certidão de Nascimento que certificava a cidadania a um brasileiro, a qual era concedida de uma forma gratuita. O governo, então, instituiu uma taxa a ser paga aos cartórios para a emissão de tal certidão. Tal fato gerou uma grande revolta popular e foi uma das causas da Guerra de Canudos. A população miserável do nordeste àquela época, que vivia em regime de semi-escravidão sob o domínio dos coronéis, não dispunha de recursos financeiros para fazer tal registro ficando, assim, impedida de exercer qualquer direito, até mesmo o de existir, legalmente. Depois chegou o CIC, atual CPF. Em seguida a Cédula de Identidade. Mais recentemente o Cartão Único de Saúde, sem o qual não se consegue ter acesso a nenhum atendimento pelos serviços públicos de saúde, sendo que a obrigatoriedade de se portar tal número de inscrição foi estendida aos usuários de planos particulares de atendimento médico-hospitalar. No ano passado, em caráter de teste, um município da Bahia já implantou um chip no uniforme dos alunos, de forma a controlar a freqüência dos mesmos. Medida por certo inócua, pois o aluno poderia deixar a blusa que contém o chip no prédio escolar e, vestindo outra blusa, saltar o muro. A menos que o próximo passo seja implantar tal chip no corpo, tanto dos alunos como de todos nós.

Teorias Conspiratórias à parte, como a da implantação de uma Nova Ordem Mundial, o que se percebe, a cada dia que passa, é que estamos sendo mais e mais envolvidos pelos tentáculos do modelo de controle governamental centralizado. Agora, com a implantação desse malfadado SINIAV foram ultrapassados todos os limites aceitáveis de monitoramento. Essa medida governamental fere as regras mais básicas dos direitos humanos, e nos remete ao Manual de Ética (Medulla Theologiae Moralles) escrito pelo teólogo jesuíta Hermann Busenbaum, que afirmava: “Quando o fim é bom, também são os meios”. Maquiavelismo na sua mais pura essência, justificando atrocidades contra povos e nações.

Com base em justificativas concretas, aparentemente inquestionáveis, se adota uma solução despropositada e incabível na espécie. Evitar roubos de carros é uma questão de policiamento de receptadores, de rigidez na liberação de documentação pelos órgãos de trânsito, e de vigilância severa nas ruas e estradas. Evitar roubo de cargas é uma questão afeta às empresas de logísticas, transportadoras e seguradoras. Controlar velocidade em vias públicas ou estradas é uma questão de se implantar radares e sinalização adequada. Controlar tráfego é questão de planejamento urbanístico, de obras de infra-estrutura e de agentes de trânsito. Há poucos dias, dados pessoais de autoridades governamentais brasileiras foram amplamente divulgados por hackers na rede mundial de computadores. Imaginemos, por hipótese, uma base de dados como essa do SINIAV sendo acessada por quadrilhas especializadas em roubos e sequestros de pessoas e de veículos. Ou será que o governo entende que as quadrilhas não irão encontrar fórmulas de “falsificar ou clonar” tais chips? Sem contarmos o risco, como nos ensinava Pedro Aleixo, de ficarmos à mercê do “guarda da esquina”.

Os locais onde frequentamos  os trajetos que fazemos, os horários em que nos deslocamos, os veículos que utilizamos, é um assunto que só diz respeito à nossa conta; isso nunca foi, e nunca será, da conta do governo. Esse processo insidioso, malévolo e dissimulado de investigar, bisbilhotar e controlar a vida dos cidadãos não pode prosperar em nosso país, sob pena de recuarmos à idade das trevas, nos transformando num bando de imbecis controlados por facções criminosas travestidas de autoridades governamentais. Não podemos permitir que o Estado, “que nada mais é do que uma ficção jurídica”, sob o manto de uma pseudo proteção dos direitos do indivíduo e de sua propriedade, instaure um modelo de governo policialesco, inquisitorial e totalitário. Precisamos unir esforços e agir, urgentemente, no sentido de protegermos direitos construídos e consolidados ao longo de séculos. É necessário que exista uma distinção clara e insofismável entre o “ESTADO DE DIREITO E DIREITO DO ESTADO”...

Carlos Abreu.